sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A IGREJA É UMA EMPRESA?

Na últimas décadas temos experimentado grandes avanços científicos, tecnológicos, econômicos; dentre outros. Consequentemente, todas as esferas da sociedade acabam influenciadas por tais tendências, inclusive a igreja. Esta tem absorvido as principais “guloseimas” do mercado, entrando assim num universo semelhante ao das grandes corporações empresariais.

Livros como, Uma Igreja Com Propósitos, de Rick Warren, entre outros, revelam a busca por um plano de ação e crescimento, capaz de dar inveja a muitos empresários bem sucedidos. O referido autor, assim como vários outros (principalmente norte americanos), apresentam-nos um modelo de “igreja” empresarial, no qual o líder principal assume o papel de um gestor presidente, responsável por formar uma equipe de subgerentes (líderes de ministérios, obreiros, etc), além de gerenciar os empreendimentos propostos. Seus liderados são responsáveis pelo funcionamento da “máquina”, sendo constantemente cobrados pelo crescimento numérico da mesma.

Neste modelo, os planos são muito bem orquestrados com o fim de alcançar os propósitos previamente definidos. Todavia, o que se percebe é que boa parte dos ditos “propósitos” são próprios do mundo dos negócios, e não estão fundamentados nos princípios do reino de Deus. Sendo assim, visam prioritariamente à projeção da corporação e seus líderes, pois os tais acabam recebendo a glória pelos resultados. Aquilo que deveria ser a manifestação do Corpo de Cristo, com sua beleza, simplicidade, diversidade e poder; acaba se tornando uma espécie de “empresa de entretenimento religioso”. Isso é lamentável!
Para uma reflexão consciente, destacamos algumas das quais consideramos ser características próprias desse “negócio”, que não devemos confundir com a Igreja.

1. O desenvolvimento dos negócios propostos pela “igreja” empresa, centram-se numa liderança personalista. O líder principal é uma espécie de “guru”, dotado de revelações e poderes “especiais” (“ungidão”), que o colocam num patamar bem acima dos demais, além de transformá-lo em alguém imune a erros e questionamentos. Muitos se tornam celebridades do mercado gospel, sendo capazes de vender os mais variados produtos em nome da “fé”.

2. Ênfase vergonhosa na arrecadação de recursos para a manutenção e expansão dos projetos. Em muitos casos os programas e as supostas bênçãos, mais se parecem os “nichos da deusa Diana”, os quais eram fonte de grande lucro para o ourives Demétrio (ver At 19.23-27). A maior parte desses “ministérios” trabalha com metas de arrecadação, transformando seus porta-vozes em verdadeiros pedintes, exploradores do povo e vendedores de amuletos religiosos. As novas metas são sempre divulgadas, mas dificilmente ocorre prestação de contas acerca dos valores arrecadados e a aplicação dos mesmos.

3. Forte apelo emocional com foco em ministrações mais parecidas com palestras de auto-ajuda do que com a proclamação das Escrituras. Os “pregadores” se destacam pela habilidade em contar piadas e fazer o povo dar risadas, além de repetirem jargões próprios do mundo motivacional, visando massagear o ego da platéia e mantê-la cativa de seus idéias mercadológicos.

4. Super valorização das estratégias (modelos) de crescimento, acima dos princípios fundamentais da fé cristã. Há programas para todos os gostos e públicos. Geralmente é o público alvo quem determina que tipo de programação será realizada. A igreja empresa procura se adaptar e satisfazer às necessidades das pessoas, a fim de alcançar suas metas de expansão.

5. Centralidade em grandes eventos realizados em prédios (templos) equipados com o que há de mais moderno em equipamentos, com objetivo de agradar freqüentadores cada dia mais exigentes. Há uma constante busca por maiores prédios e maior visibilidade em um determinado local. Com isto, as pessoas se tornam meros números nas estatísticas, além de potenciais contribuintes para o avanço do negócio.

Estas são apenas algumas das muitas características da igreja empresa. Um olhar sensato sobre as mesmas será suficiente para concluirmos que tal modelo, em muito destoa da Igreja que deve se expressar como organismo vivo, e não como instituição empresarial.
Que Deus nos ajude a não aceitarmos que o empreendedorismo do meio gospel, nos transforme em meros consumidores de programas e produtos, ao invés de celebrarmos a simples e transformadora comunhão com Deus e com nosso próximo.

por Riva dos Santos